IVO 60 blog

Blog para registros dos processos do IVO60 da Cooperativa Paulista de Teatro.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ivo 60 é 10 - segunda semana

Música ao vivo!
Música ao vivo!!!
Música ao vivo!!!!!

Desci para ver os músicos ensaiarem enquanto os atores se aqueciam lá em cima.
A presença da música traz imediatamente a certeza de que o lance é sério. Eles dominam a técnica. As atmosferas se instauram e transitam sem esforço aparente.

Quando a música pára, Mariana me conta que dois deles acabaram de se conhecer. Como assim? Co-mo as-sim?

Sem conseguir não fazer paralelos óbvios, superficiais, e completamente ingênuos, penso em como os músicos são felizes. Eles fluem...
Não inspira confiança a seguinte imagem: numa mesa de bar, o sujeito ao lado começa a falar um texto qualquer de teatro como de Titânia em Sonho de uma Noite de Verão, por exemplo; em seguida a garçonete junto com um grupo de adolescentes começa a entoar o canto das fadas que vem logo depois “Serpes manchadas, feios ouriços/ sapos nojentos, fugi asinha (...)” e assim seguem na noite até o sol raiar...

Porém, não nos causa incredulidade se nesse mesmo bar, alguém puxa um violão, uma rabeca ou uma caixinha de fósforo e o improviso leva a todos.

Não é por acaso que nesse trabalho em que o grupo se debruça especialmente sobre os meios de comunicação de massa, exista a necessidade de a música estar em cena. Ela surge como instrumento poderoso com o potencial de fabricar simulacros de identidade cultural e de gerar o sentimento de que estamos realmente conectados ao próximo, de que somos um só, de que estamos no mesmo barco, de que vamos juntos torcer pelo Brasil na Copa!



A tortura com os depoimentos pessoais continua. Sinto-me muuuito desonesta com os atores por estar invadindo suas privacidades e não estar em pé de igualdade no quesito “deixar a máscara cair”. Agradeço a confiança e peço desculpas ao mesmo tempo. Nunca estive nessa posição, na de quem olha de cima, aprendi a funcionar na horizontal.
Para além do meu incômodo de quem está espiando o que não deveria, não consigo deixar de me remeter a Stanislávski. Existe no trabalho a busca pelo diálogo entre a linguagem do over, do histriônico com o “simples”, com o “pé no chão dizendo olho no olho” (evito as palavras verdadeiro e sincero porque pode-se ser over e sincero ao mesmo tempo. Estou à procura de sugestões para esse termo). Mexer a massa para encontrar esse “simples” ou “essencial” passa por olhar com mais calma para algumas das idéias levantadas por ele. Entre elas, a que me parece mais significativa às dificuldades que surgem, é a da vontade e da contra-vontade. A vontade de ser aceito, de sentir-se amado se opõem à necessidade vital de fazer coisas ou tomar atitudes que imediatamente afastam as pessoas e declaram o fim da ilusão de ser “feliz para sempre”.
Para a piscadinha para a platéia funcionar como um tapa na cara, como a luz que traz a consciência ou como a perplexidade que desnaturaliza os acontecimentos, o mergulho na própria merda tem que ser.

Marina Corazza

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