IVO 60 blog

Blog para registros dos processos do IVO60 da Cooperativa Paulista de Teatro.

segunda-feira, 9 de março de 2009

SOMBRAS DA LUZ - Depoimento Cenografia

A participação da cenografia, ou melhor definido, do raciocínio de espaço cênico e encenação no projeto à Sombra da Luz, ao contrário das últimas colaborações, têm se destinado cada vez mais a obrservação, contemplação. Seja do nascimento das personagens, seja no local de exposição dos seus potenciais de atuação, o Parque da Luz. Talvez os termos em que se possa definir a atuação da equipe de cenografia seja mesmo a observação de potenciais.

O Parque da Luz, pequeno em perímetro, em comparação ao Parque Villa Lobos, é muito mais amplo. As situações, e a quantidade de detalhes e lugares, instigaram público e atores. As personagens, com suas múltiplas “qualidades” cênicas extrapolaram as possibilidades de encontros e diálogos no parque através do incrível e da quebra do cotidiano.

A criação das personagens estimulou a intervenção a transformar as mesmas em interventoras no espaço. Os objetos pessoais e os coletivos, aqueles que extrapolam o individual e chamam para a encenação coletiva constituem o vocabulário. Os objetos que os atores usam para locomover-se, ou suas malas, sacolas, e apetrechos vêm sendo pensados como potenciais de intervenção.

Para presentear objetos às personagens, de uma maneira mais espontânea e visceral, inserimos o Papai Noel, figura do ideário popular, na intervenção de dezembro. As possibilidades de recusa e ou aceitação do presente, a maneira como as personagens utilizariam os objetos, todas as questões estavam no ar e enriqueciam o jogo cênico. E afinal, um sujeito todo de vermelho portando um carrinho de mão chama a atenção do homem comum.

A equipe de figurino, mesclando atividades e campos de conhecimento, teve uma atitude mais incisiva na intervenção espacial, e nesse dia, com um rolo de tecido vermelho, colocado na rua principal do parque, sem que os atores soubessem, demarcando relações espaciais do parque. O rolo de tecido, com 50m de cumprimento, demarcou a grande extensão da rua. No dia seguinte, as personagens apropriaram-se do tecido para suas atividades de jogo cênico.

Como interventores, estamos ainda engatinhando, não dominamos o parque ainda. Muito a descobrir ainda. Mas as possibilidades são animadoras. A chave do jogo talvez seja como deixar rastros, com a sutileza que o parque demanda, nos seus silêncios visuais, na sua riqueza discreta de detalhes. Os rastros serão as narrativas que o jogo de atores construírem.

Luiz Florence

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