IVO 60 blog

Blog para registros dos processos do IVO60 da Cooperativa Paulista de Teatro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

IVO60 é 10 - 1,2,3 Atenção.... Edição

Contratempos me fizeram não poder acompanhar o trabalho como eu gostaria e por isso passei algumas semanas sem escrever.
No dia em que Anna Turra chegou com a proposta de ter três câmeras projetando detalhes em tempo real dos atores em cena, tive que sair. Completamente frustrada por querer ficar mais.
Mesmo nos poucos minutos que fiquei, a câmera já se mostrou objeto de desejo. Os atores brincavam de ter a imagem projetada na parede. Grande. Fazer e se ver simultaneamente. Um mínimo detalhe como uma subida de sobrancelha, um olhar “penetrante”, uma virada de cabeça e todos não estão mais olhando para você pequeno e insignificante na sala, mas para a sua imagem grande e sedutora na parede.

O risco de que a imagem projetada sugue a platéia é real. As intenções de cada interação precisam ser bem conscientes. O diálogo parece ser mais fértil quando aquilo que é projetado corresponde nitidamente a uma parte do que é encenado e, com isso, assume um significado completamente diferente daquele que tem no contexto da cena entre os atores.

Intenções ampliadas, gestos descontextualizados, ator pego de surpresa pela câmera num momento de exacerbação das emoções de outro ator...Enfim, descobrir as diferenças entre o que ocorre na projeção e na relação entre os atores pode ser a grande chave para que a peça ganhe em camadas de leitura e traga à discussão sobre a indústria cultural questionamentos e percepções que se desdobrem para além da superfície.

Tenho a impressão de que esse caminho evidencia a posição (política, sim) do grupo sem que para isso os artistas assumam uma postura catequizante sobre aqueles que assistem. O discurso cênico é tecido para que algumas pontas fiquem soltas e sejam levadas pelo público.


Marina Corazza

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