IVO 60 blog

Blog para registros dos processos do IVO60 da Cooperativa Paulista de Teatro.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

IVO60 é 10! - Ópera de Sabão

Brincar de variar as velocidades de diferentes ações e movimentos.

Fazer todas as cenas da telenovela criada dentro da peça em um ritmo bem mais lento do que aquele que os atores se habituaram.

Desacelerar.

Atuar lentamente sem perder o fio que dá coerência e sentido às falas e às ações. Não cair no adormecimento. Não perder a vida pulsando. Redescobrir intenções e reações.

Estas indicações levaram os atores a uma zona desconhecida e viva. Como quem se equilibra numa corda bamba, em cada micro partícula de cena, reorganizavam-se naturalmente no instinto de manter a situação teatral verossímil.

O confronto entre o comando de realizar todas as ações numa velocidade mais lenta e a construção elaborada até agora, fez com que novas e potentes intenções saltassem. Como numa decupagem minuciosa, era possível assistir a toda trajetória de intenções sem que para isso os atores precisassem sublinhá-las grosseiramente.

Além da “decupagem interna”, naturalmente as relações com o espaço também ficaram mais claras. A relação do corpo com o espaço, do corpo em relação aos outros corpos, do corpo em relação a ele mesmo se mostraram mais precisas e quase pictóricas.

Pergunta que na minha opinião deve estar presente em todos os ensaios a partir de agora: de que forma evitar que esta plasticidade seduza a plateia a tal ponto que a mesma chave ligada no piloto automático para absorver qualquer produto da indústria de entretenimento acabe por não ser desligada? De que forma evitar que a peça também seja absorvida pelo modo de recepção do sistema?

Marina Corazza

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

IVO60 é 10 - 1,2,3 Atenção.... Edição

Contratempos me fizeram não poder acompanhar o trabalho como eu gostaria e por isso passei algumas semanas sem escrever.
No dia em que Anna Turra chegou com a proposta de ter três câmeras projetando detalhes em tempo real dos atores em cena, tive que sair. Completamente frustrada por querer ficar mais.
Mesmo nos poucos minutos que fiquei, a câmera já se mostrou objeto de desejo. Os atores brincavam de ter a imagem projetada na parede. Grande. Fazer e se ver simultaneamente. Um mínimo detalhe como uma subida de sobrancelha, um olhar “penetrante”, uma virada de cabeça e todos não estão mais olhando para você pequeno e insignificante na sala, mas para a sua imagem grande e sedutora na parede.

O risco de que a imagem projetada sugue a platéia é real. As intenções de cada interação precisam ser bem conscientes. O diálogo parece ser mais fértil quando aquilo que é projetado corresponde nitidamente a uma parte do que é encenado e, com isso, assume um significado completamente diferente daquele que tem no contexto da cena entre os atores.

Intenções ampliadas, gestos descontextualizados, ator pego de surpresa pela câmera num momento de exacerbação das emoções de outro ator...Enfim, descobrir as diferenças entre o que ocorre na projeção e na relação entre os atores pode ser a grande chave para que a peça ganhe em camadas de leitura e traga à discussão sobre a indústria cultural questionamentos e percepções que se desdobrem para além da superfície.

Tenho a impressão de que esse caminho evidencia a posição (política, sim) do grupo sem que para isso os artistas assumam uma postura catequizante sobre aqueles que assistem. O discurso cênico é tecido para que algumas pontas fiquem soltas e sejam levadas pelo público.


Marina Corazza